sábado, 21 de fevereiro de 2009

Moda Sustentável Abre Perspectivas de Mercado

Maior desafio está em provar que se trata de uma necessidade para o futuro. Quem foi ao São Paulo Fashion Week (SPFW) viu. Quem não foi, ficou sabendo pelos jornais, revistas e TVs que a indústria brasileira da moda não fica devendo nada a nenhum outro importante segmento econômico do País quando o assunto é sustentabilidade. Inspirado na idéia do desenvolvimento sustentável, o mais importante evento de moda do País, encerrado ontem, revelou que esse setor começa a incluir o conceito em todos os elos de sua cadeia produtiva. A despeito das bandeiras empunhadas em defesa do uso de energias renováveis e da redução de emissão de gás carbônico, chamou mesmo a atenção a parceria firmada entre o SPFW e o Instituto “e”, uma organização do terceiro setor recém-criada cujo objetivo é pesquisar e disseminar alternativas social e ambientalmente responsáveis, sobretudo para a cadeia de produção de tecidos.

O diretor do instituto, Luís Justo, comemora a inédita parceria, que considera um “megafone” para a causa da sustentabilidade. “O próprio SPFW acredita na força do tema e no fato de que estamos em um momento de transformação. Por isso, escolhemos utilizar a moda. Embora não seja um setor tradicionalmente muito preocupado com o tema, ele sempre teve um papel importante na mudança de comportamento e na sensibilização dos jovens e dos formadores de opinião”, explica.

Para Justo, o movimento não tem nada de ativismo. Ele tem a finalidade de influenciar os stakeholders da indústria da moda para fortalecer as ações que façam dela um negócio economicamente viável, socialmente justo e ambientalmente correto. Por esse motivo, desde sua criação, o Instituto “e” vem promovendo parcerias e estreitando laços com os principais agentes do setor, como, por exemplo, a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) e a Associação Brasileira de Estilistas (Abest). Prova de que nasceu de braços dados com o mercado, ele foi fundado e é presidido pelo estilista e diretor de criação da marca Osklen, Oskar Metsavaht, um entusiasta do potencial de mercado dos materiais ecologicamente sustentáveis que usa sua rede de lojas como vitrine. “A aceitação tem sido enorme. São os produtos que mais fazem sucesso”, garante Justo.

De acordo com Metsavaht, o mercado brasileiro precisa de estímulo para atingir um estágio mais aprofundado de compromisso com a sustentabilidade. E o SPFW ajuda na medida em que dispõe de credibilidade e influencia mudanças. “Conhecendo meu trabalho e percebendo a experiência que eu já tinha com o instituto, construímos juntos o conceito de sustentabilidade do SPFW”, afirma. A entidade convidou 11 estilistas, entre eles o próprio Metsavaht, para criar modelos usando alguns tecidos desenvolvidos pelo instituto. As roupas ficaram expostas nos corredores da Bienal, com explicações sobre o processo de fabricação dos tecidos.

Além de pesquisar alternativas para a produção têxtil, o Instituto e trabalha principalmente junto aos fornecedores e às indústrias, apresentando maneiras para transformar o processo produtivo de modo que resulte no menor impacto possível para o meio ambiente. Na outra ponta da cadeia, com o objetivo de gerar demanda e conscientização, a instituição criou o selo e-fabrics, que acaba de ser lançado para garantir ao consumidor que determinadas roupas atendem a critérios de sustentabilidade, tanto sociais quanto ecológicos. “É um selo de credibilidade para a sociedade. Não é certificador, mas um label para que as pessoas compreendam. Temos de saber o que está por trás do que estamos comprando. Se existe um produto que sabemos que destrói a natureza, não podemos comprá-lo, por mais que seja desejável”, explica Metsavaht.

A maior aposta do Instituto “e” está relacionada ao potencial de mercado dos tecidos especiais. Até agora, destaca Justo, eles vêm se mostrando promissores tanto em relação ao material usado na confecção da Osklen quanto nas parcerias feitas com indústrias do setor. Justo explica o otimismo. “É uma tendência, uma necessidade do planeta fazer essa transformação. Já existem países que exigem produtos certificados nas importações. Tenho certeza de que há mercado tanto no Brasil quanto, principalmente, no exterior”, defende. Para o executivo, as empresas têxteis estão cada dia mais sensíveis para a importância de tornar seus negócios sustentáveis, e por isso, no futuro, a falta do componente de sustentabilidade poderá ser um fator limitante para a expansão em mercados crescentemente competitivos. “Esse movimento não vai acontecer do dia para a noite, mas o nosso papel é justamente impactar o mercado com essa nova visão de negócio”, diz o executivo.

Na prática, segundo Justo, os tecidos desenvolvidos pela organização podem ou não ser mais caros do que os convencionais, dependendo da forma como são produzidos. A economia de energia e de recursos, por exemplo, é um fator que reduz o custo produtivo. Por outro lado, a produção em pequena escala, atendendo a um público seleto, encarece a roupa. Com o interesse crescente do mercado e do consumidor, Justo prevê, no entanto, o gradativo aumento da produção e, por conseqüência, a queda dos preços. Ainda assim, acredita que existam compradores disposto a pagar o preço inicial mais alto decorrente do valor socialmente responsável. “Mesmo que tenha um custo maior, o valor agregado é percebido pelo consumidor final, por ser um produto que respeita certos critérios. Este é, portanto, um bom negócio”, assegura.

Para Metsavaht, há, no momento, uma convergência de esforços e experiências para criar algo novo e consistente no mercado da moda. “Acho que a preocupação sustentável é a grande tendência da moda. Tudo está por se fazer. Nem as marcas nem os próprios projetos sustentáveis, as indústrias ou a sociedade estão devidamente preparados para o tema. Mas existe a tendência. E o consumidor demonstra vontade de aprender e valorizar a sustentabilidade”, explica.

O próximo passo na consolidação do Instituto “e” é, segundo Justo, refinar os critérios de sustentabilidade dos tecidos, com o apoio de organizações especializadas como o WWF e os institutos Socioambiental e Akatu. O maior desafio, acredita, está em provar para o mercado que os novos tecidos são, “mais do que uma alternativa, uma necessidade para o futuro”. Desenvolvimento sustentável está na moda. E Metsavaht, como estilista, faz sua previsão pessoal sobre as tendências da próxima estação. “Não vai poder faltar uma peça de desenvolvimento sustentável no guarda-roupa. Isso é uma forma de sermos ativistas e transformadores. Mas o que não pode ter são roupas de fábricas que despejam dejetos químicos nos solos e nos rios”, sentencia.

Fonte: http://www.sustentabilidade.org.br/doku.php?id=portug:um_mundo_sustentavel:moda:clique_aqui_para_ler_mais_desse_artigo

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