sábado, 21 de fevereiro de 2009

Moda Sustentável Abre Perspectivas de Mercado

Maior desafio está em provar que se trata de uma necessidade para o futuro. Quem foi ao São Paulo Fashion Week (SPFW) viu. Quem não foi, ficou sabendo pelos jornais, revistas e TVs que a indústria brasileira da moda não fica devendo nada a nenhum outro importante segmento econômico do País quando o assunto é sustentabilidade. Inspirado na idéia do desenvolvimento sustentável, o mais importante evento de moda do País, encerrado ontem, revelou que esse setor começa a incluir o conceito em todos os elos de sua cadeia produtiva. A despeito das bandeiras empunhadas em defesa do uso de energias renováveis e da redução de emissão de gás carbônico, chamou mesmo a atenção a parceria firmada entre o SPFW e o Instituto “e”, uma organização do terceiro setor recém-criada cujo objetivo é pesquisar e disseminar alternativas social e ambientalmente responsáveis, sobretudo para a cadeia de produção de tecidos.

O diretor do instituto, Luís Justo, comemora a inédita parceria, que considera um “megafone” para a causa da sustentabilidade. “O próprio SPFW acredita na força do tema e no fato de que estamos em um momento de transformação. Por isso, escolhemos utilizar a moda. Embora não seja um setor tradicionalmente muito preocupado com o tema, ele sempre teve um papel importante na mudança de comportamento e na sensibilização dos jovens e dos formadores de opinião”, explica.

Para Justo, o movimento não tem nada de ativismo. Ele tem a finalidade de influenciar os stakeholders da indústria da moda para fortalecer as ações que façam dela um negócio economicamente viável, socialmente justo e ambientalmente correto. Por esse motivo, desde sua criação, o Instituto “e” vem promovendo parcerias e estreitando laços com os principais agentes do setor, como, por exemplo, a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) e a Associação Brasileira de Estilistas (Abest). Prova de que nasceu de braços dados com o mercado, ele foi fundado e é presidido pelo estilista e diretor de criação da marca Osklen, Oskar Metsavaht, um entusiasta do potencial de mercado dos materiais ecologicamente sustentáveis que usa sua rede de lojas como vitrine. “A aceitação tem sido enorme. São os produtos que mais fazem sucesso”, garante Justo.

De acordo com Metsavaht, o mercado brasileiro precisa de estímulo para atingir um estágio mais aprofundado de compromisso com a sustentabilidade. E o SPFW ajuda na medida em que dispõe de credibilidade e influencia mudanças. “Conhecendo meu trabalho e percebendo a experiência que eu já tinha com o instituto, construímos juntos o conceito de sustentabilidade do SPFW”, afirma. A entidade convidou 11 estilistas, entre eles o próprio Metsavaht, para criar modelos usando alguns tecidos desenvolvidos pelo instituto. As roupas ficaram expostas nos corredores da Bienal, com explicações sobre o processo de fabricação dos tecidos.

Além de pesquisar alternativas para a produção têxtil, o Instituto e trabalha principalmente junto aos fornecedores e às indústrias, apresentando maneiras para transformar o processo produtivo de modo que resulte no menor impacto possível para o meio ambiente. Na outra ponta da cadeia, com o objetivo de gerar demanda e conscientização, a instituição criou o selo e-fabrics, que acaba de ser lançado para garantir ao consumidor que determinadas roupas atendem a critérios de sustentabilidade, tanto sociais quanto ecológicos. “É um selo de credibilidade para a sociedade. Não é certificador, mas um label para que as pessoas compreendam. Temos de saber o que está por trás do que estamos comprando. Se existe um produto que sabemos que destrói a natureza, não podemos comprá-lo, por mais que seja desejável”, explica Metsavaht.

A maior aposta do Instituto “e” está relacionada ao potencial de mercado dos tecidos especiais. Até agora, destaca Justo, eles vêm se mostrando promissores tanto em relação ao material usado na confecção da Osklen quanto nas parcerias feitas com indústrias do setor. Justo explica o otimismo. “É uma tendência, uma necessidade do planeta fazer essa transformação. Já existem países que exigem produtos certificados nas importações. Tenho certeza de que há mercado tanto no Brasil quanto, principalmente, no exterior”, defende. Para o executivo, as empresas têxteis estão cada dia mais sensíveis para a importância de tornar seus negócios sustentáveis, e por isso, no futuro, a falta do componente de sustentabilidade poderá ser um fator limitante para a expansão em mercados crescentemente competitivos. “Esse movimento não vai acontecer do dia para a noite, mas o nosso papel é justamente impactar o mercado com essa nova visão de negócio”, diz o executivo.

Na prática, segundo Justo, os tecidos desenvolvidos pela organização podem ou não ser mais caros do que os convencionais, dependendo da forma como são produzidos. A economia de energia e de recursos, por exemplo, é um fator que reduz o custo produtivo. Por outro lado, a produção em pequena escala, atendendo a um público seleto, encarece a roupa. Com o interesse crescente do mercado e do consumidor, Justo prevê, no entanto, o gradativo aumento da produção e, por conseqüência, a queda dos preços. Ainda assim, acredita que existam compradores disposto a pagar o preço inicial mais alto decorrente do valor socialmente responsável. “Mesmo que tenha um custo maior, o valor agregado é percebido pelo consumidor final, por ser um produto que respeita certos critérios. Este é, portanto, um bom negócio”, assegura.

Para Metsavaht, há, no momento, uma convergência de esforços e experiências para criar algo novo e consistente no mercado da moda. “Acho que a preocupação sustentável é a grande tendência da moda. Tudo está por se fazer. Nem as marcas nem os próprios projetos sustentáveis, as indústrias ou a sociedade estão devidamente preparados para o tema. Mas existe a tendência. E o consumidor demonstra vontade de aprender e valorizar a sustentabilidade”, explica.

O próximo passo na consolidação do Instituto “e” é, segundo Justo, refinar os critérios de sustentabilidade dos tecidos, com o apoio de organizações especializadas como o WWF e os institutos Socioambiental e Akatu. O maior desafio, acredita, está em provar para o mercado que os novos tecidos são, “mais do que uma alternativa, uma necessidade para o futuro”. Desenvolvimento sustentável está na moda. E Metsavaht, como estilista, faz sua previsão pessoal sobre as tendências da próxima estação. “Não vai poder faltar uma peça de desenvolvimento sustentável no guarda-roupa. Isso é uma forma de sermos ativistas e transformadores. Mas o que não pode ter são roupas de fábricas que despejam dejetos químicos nos solos e nos rios”, sentencia.

Fonte: http://www.sustentabilidade.org.br/doku.php?id=portug:um_mundo_sustentavel:moda:clique_aqui_para_ler_mais_desse_artigo

Bio-Diesel: Produção Caseira

Esse é o típico assunto que deixa um permacultor contente. Tecnologias livres que vão na direção de mais sustentabilidade. Nesse caso, maneiras seguras e eficazes de produzir sua própria energia, o biodiesel.

Essa é uma iniciativa do amigo e parceiro Jorge Timmermann, permacultor e professor de permacultura, que traduziu e editou o presente material. Tenho acompanhado com interesse sua dedicação à pesquisa de geração de energia em pequena escala.

Tratam-se de duas apresentações em Powerpoint que procuram, de maneira simples e didática, esclarecer a cerca da produção do biodiesel em escala caseira e os seus princípios básicos em química. É para compreender e fazer. Faça bom proveito:

Fonte: http://www.permear.org.br/2006/08/31/biodiesel-producao-caseira/

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

À procura de nós mesmos

Tudo que está acontecendo hoje no planeta reflete exatamente nosso modo de agir inconsciente. Quem somos nós por dentro? ou que estamos fazendo aqui exatamente?
Por que será que, justamente agora, nessa época em que vivemos, uma mudança urgente nos paradigmas de desenvolvimento começa a se tornar imperativa? Se os países emergentes adotarem o mesmo modelo dos países ricos seriam necessários de 3 a 5 planetas para sustentar os mais de 6 bilhões de habitantes que não param de se reproduzir como vírus por toda a parte. Tudo indica que o melhor caminho a ser seguido é aquele onde a felicidade do ser humano venha de dentro dele mesmo e não na satisfação proveniente do hábito de consumir sem limites, produzindo lixo, degradando a natureza, alterando clima destruindo todos os laços de amor e fraternidade através de conflitos e guerras. Alguma coisa realmente está acontecendo, algo estranho paira no ar, vamos observar e tentar descobrir o que é.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Permacultura

O que é Permacultura?

Em poucas palavras, dizemos que Permacultura é: um sistema de planejamento para a criação de ambientes humanos sustentáveis. Seus princípios teóricos e práticos são uma síntese das práticas agrícolas e conhecimentos tradicionais e das descobertas da ciência moderna visando o desenvolvimento integrado da propriedade.

A Permacultura oferece as ferramentas para o planejamento, a implantação e a manutenção de ecossistemas cultivados no campo e nas cidades, de modo a que eles tenham a diversidade, a estabilidade e a resistência dos ecossistemas naturais. Alimento saudável, habitação e energia devem ser providos de forma sustentável para criar culturas permanentes.

Por que Permacultura?

Porque tendo como base o planejamento consciente, a Permacultura torna possível, entre outras coisas, a utilização da terra sem desperdício ou poluição, a restauração de paisagens degradadas e o consumo mínimo de energia. Quando a ação do permacultor se volta para áreas agrícolas, o resultado é a reversão de situações dramáticas de degradação sócio-ambiental.

Todo sistema permacultural deve evoluir, com designs arrojados, para a construção de sociedades economicamente viáveis, socialmente justas, culturalmente sensíveis, dotadas de agroecossistemas que sejam produtivos e conservadores de recursos naturais.

A Permacultura exige uma mudança de atitude que consiste basicamente em fazer os seres humanos viver de forma integrada ao meio ambiente, alimentando os ciclos vitais da natureza. Como ciência ambiental, reconhece os próprios limites e por isso nasceu amparada por uma ética fundadora de ações comuns para o bem do sistema Terra.

Os australianos Bill Mollison e David Holmgren, fundadores da Permacultura nos anos 70, buscaram princípios éticos universais surgidos no seio de sociedades indígenas e de tradições espirituais, que estão orientados na lógica básica do universo de cooperação e solidariedade.


Fonte: http://www.permear.org.br/permacultura/

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Desenvolvimento Local é o Caminho

No atual momento histórico a cultura local representa um espaço político onde começam a se delinear novos modelos de desenvolvimento. Submetidas à lógica do sistema global, as microrregiões, constituídas pelas comunidades, se tornam um lócus de resistência às mudanças impostas por acordos internacionais entre os grandes blocos econômicos. Assim, com a crise do sistema financeiro mundial, apoiado em uma lógica incapaz de encontrar solução para os problemas que afligem as comunidades locais, os movimentos sociais configurados nas economias solidárias, nas associações de moradores e nas cooperativas de trabalhadores oferecem uma alternativa adequada baseada no esforço coletivo e organizado da comunidade para a construção de suas próprias soluções e ao atendimento adequado às necessidades apresentadas em cada comunidade ou grupo. Esses espaços ganham força através do sentimento de identidade comum, de solidariedade, intimidade, confraternização, religiosidade, vizinhança. Cada região do mundo possui sua própria evolução no interior desta dinâmica geral. Dessa forma, qualquer empreendimento que venha surgir estará sempre adequado a essas características culturais locais e é no seio dessa rede de significações, que se produzem nos vínculos com o lugar, que estão inseridas as novas práticas e paradigmas para o desenvolvimento sustentável global e a responsabilidade ecológica de toda a humanidade.

Cartilha do Aquecimento Global

"Perguntas e respostas sobre aquecimento global tem linguagem acessível e foi desenvolvida pelo IPAM para conscientizar a população sobre as mudanças climáticas. Além da versão impressa, o conteúdo da cartilha pode ser baixado gratuitamente pela internet."



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Termos como efeito estufa, mudanças climáticas e aquecimento global, apesar de serem incansavelmente repetidos ultimamente, são bastante recentes para a humanidade. Até porque, as transformações na atmosfera terrestre têm ocorrido mais drasticamente em função do modelo de desenvolvimento que as sociedades adotaram nos últimos 150 anos.

Por isso, muita gente ainda são sabe exatamente o que essas palavras querem dizer. Em forma de perguntas - 32 ao todo - a cartilha desenvolvida pelo IPAM - Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, em parceria com a WHRC - Woods Hole Research Center, traz informações que procuram esclarecer essas dúvidas, além de fornecer dados sobre o assunto e apresentar nomes como Protocolo de Quioto, IPCC - Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas e MDL - Mecanismo de Desenvolvimento Limpo.

Pelo fato de o desmatamento ser um dos grandes vilões para o aumento do efeito estufa, o tema é bastante enfatizado na cartilha, que chama atenção especial para o futuro da Amazônia. Como alerta o professor de física, Paulo Artaxo, no prefácio de Perguntas e Respostas sobre Aquecimento Global, "o pior uso que podemos fazer deste riquíssimo ecossistema é queimá-lo, transformando sua rica biodiversidade em gases de efeito estufa".
Os leitores também são convidados a fazer a sua parte na contenção das mudanças climáticas e a entender a importância do papel do Brasil nesse desafio. Ao final, há indicação de vários sites para quem quiser se aprofundar no assunto.
Escrita de forma didática, a cartilha pode ser facilmente compreendida por adultos e crianças e está disponível para download gratuito na biblioteca do site do IPAM.

Os limites do capital são os limites da Terra

Na atual crise, a questão principal não é salvar o sistema econômico, e sim a humanidade

Por Leonardo Boff*

Uma semana após o estouro da bolha econômico-financeira, no dia 23 de setembro, ocorreu o assim chamado Earth Overshoot Day, quer dizer, "o dia da ultrapassagem da Terra". Grandes institutos que acompanham sistematicamente o estado da Terra anunciaram: a partir deste dia o consumo da humanidade, em 2008, ultrapassou em 40% a capacidade de suporte e regeneração do sistema-Terra. Traduzindo: a humanidade está consumindo um planeta inteiro e mais 40% dele que não existe. O resultado é a manifestação insofismável da insustentabilidade global da Terra e do sistema de produção e consumo imperante. Entramos no vermelho e assim não poderemos continuar porque não temos mais fundos para cobrir nossas dívidas ecológicas.

Esta notícia, alarmante e ameaçadora, ganhou apenas algumas linhas na parte internacional dos jornais, ao contrário da outra que até hoje ocupa as manchetes dos meios de comunicação e os principais noticiários de televisão. Lógico, nem poderia ser diferente. O que estrutura as sociedades mundiais, como há muitos anos o analisou Polaniy em seu famoso livro A Grande Transformação, não é nem a política nem a ética e muito menos a ecologia, mas unicamente a economia. Tudo virou mercadoria, inclusive a própria Terra. E a economia submeteu a si a política e mandou para o limbo a ética.

Até hoje somos castigados dia a dia a ler mais e mais relatórios e análises da crise econômico-financeira como se somente ela constituísse a realidade realmente existente. Tudo o mais é secundarizado ou silenciado.

A discussão dominante se restringe a esta questão: que correções importa fazer para salvar o capitalismo e regular os mercados? Assim poderíamos continuar as usual a fazer nossos negócios dentro da lógica própria do capital que é: quanto posso ganhar com o menor investimento possível, no lapso de tempo mais curto e com mais chances de aumentar o meu poder de competição e de acumulação? Tudo isso tem um preço: a dilapidação da natureza e o esquecimento da solidariedade geracional para com os que virão depois de nós. Eles precisam também satisfazer suas necessidades e habitar um planeta minimamente saudável. Mas, esta não é a preocupação nem o discurso dos principais atores econômicos mundiais mesmo da maioria dos Estados, como o brasileiro que, nesta questão, é administrado por analfabetos ecológicos.

Poucos são os que colocam a questão axial: afinal, se trata de salvar o sistema ou resolver os problemas da humanidade? Esta é constituída em grande parte por sobreviventes de uma tribulação que não conhece pausa nem fim, provocada exatamente por um sistema econômico e por políticas que beneficiam apenas 20% da humanidade, deixando os demais 80% a comer migalhas ou entregues à sua própria sorte. Curiosamente, as vitimas que são a maioria sequer estão presentes ou representadas nos foros em que se discute o caos econômico atual. E pour cause, para o mercado são tidos como zeros econômicos, pois o que produzem e o que consomem é irrelevante para contabilidade geral do sistema.

A crise atual constitui uma oportunidade única de a humanidade parar, pensar, ver onde se cometeram erros, como evitá-los e que rumos novos devemos conjuntamente construir para sair da crise, preservar a natureza e projetar um horizonte de esperança, promissor para toda a comunidade de vida, incluídas as pessoas humanas. Trata-se sem mais nem menos de articular um novo padrão de produção e de consumo com uma repartição mais equânime dos benefícios naturais e tecnológicos, respeitando a capacidade de suporte de cada ecossistema, do conjunto do sistema-Terra e vivendo em harmonia com a natureza.

Milkahil Gorbachev, presidente da Cruz Verde Internacional e um dos principais animadores da Carta da Terra, grupo ao qual pertenço, advertiu recentemente: Precisamos de um novo paradigma de civilização porque o atual chegou ao seu fim e exauriu suas possibilidades. Temos que chegar a um consenso sobre novos valores. Em 30 ou 40 anos a Terra poderá existir sem nós.

A busca de um novo paradigma civilizatório é condição de nossa sobrevivência como espécie. Assim como está, não podemos continuar. Na última página de seu livro A era dos extremos, diz enfaticamente Eric Hobsbawm: Nosso mundo corre o risco de explosão e de implosão. Tem de mudar. E o preço do fracasso, ou seja, a alternativa para a mudança da sociedade, é a escuridão.

Importa entender que estamos enredados em quatro grandes crises: duas conjunturais – a econômica e a alimentar – e duas estruturais – a energética e a climática. Todas elas estão interligadas e a solução deve ser includente. Não dá para se ater apenas à questão econômica, como é predominante nos debates atuais. Deve-se começar pelas crises estruturais, que se não forem bem encaminhadas, tornarão insustentáveis todas as demais.

As crises estruturais, portanto, são as que mais atenção merecem. A crise energética revela que a matriz baseada na energia fóssil, que movimenta 80% da máquina produtiva mundial, tem dias contados. Ou inventamos energias alternativas, ou entraremos em poucos anos num incomensurável colapso.

A crise climática possui traços de tragédia. Não estamos indo ao encontro dela. Já estamos dentro dela. A Terra já começou a se aquecer. A roda começou a girar e não há mais como pará-la, apenas diminuir sua velocidade ao minimizar seus efeitos catastróficos e adaptar-se a ela. Bilhões e bilhões de dólares devem ser investidos anualmente para estabilizar o clima em torno de 2 a 3 graus Celsius, já que seu aquecimento poderá ficar entre 1,6 a 6 graus, o que poderia configurar uma devastação gigantesca da biodiversidade e o holocausto de milhões de seres humanos.

De todas as formas, mesmo mitigado, este aquecimento vai produzir transtornos significativos no equilíbrio climático da Terra e provocar, nos próximos anos, cerca de 200 milhões de refugiados climáticos, segundo dados fornecidos pelo atual Presidente da Assembléia Geral da ONU, Miguel d'Escoto, em seu discurso inaugural em meados de outubro de 2008. E estes dificilmente aceitarão o veredito de morte sobre suas vidas. Romperão fronteiras nacionais, desestabilizando politicamente muitas nações.

Estas duas crises estruturais vão inviabilizar o projeto do capital. Ele partia do falso pressuposto de que a Terra é uma espécie de baú do qual podemos tirar recursos indefinidamente. Hoje ficou claro que a Terra é um planeta pequeno, velho e limitado que não suporta um projeto de exploração ilimitada.

Em 1961, precisávamos de metade da Terra para atender as demandas humanas. Em 1981, empatávamos: precisávamos de um Terra inteira. Em 1995, já ultrapassamos em 10% de sua capacidade de regeneração, mas era ainda suportável. Em 2008 passamos de 40%, e a Terra está dando sinais inequívocos de que já não agüenta mais. Se mantivermos o crescimento do PIB mundial entre 2-3% ao ano, em 2050 vamos precisar de duas Terras, o que é impossível. Mas, não chegaremos lá. Resta ainda lembrar que entre 1900, quando a humanidade tinha 1,6 bilhões de habitantes, e 2008, com 6,7 bilhões, o consumo aumentou 16 vezes. Se os paises ricos quisessem generalizar para toda a humanidade o seu bem-estar — cálculos já foram feitos — iríamos precisar de duas Terras iguais a nossa.

A crise de 1929 dava por descontada a sustentabilidade da Terra. A nossa não pode mais contar com este fato e com a abundância dos recursos naturais. Nenhuma solução meramente econômica da crise pode suprir este déficit da Terra. Não considerar este dado torna a análise manca naquilo que é a determinação fundamental e a nova centralidade.

Tudo isso nos convence de que a crise do capital não é crise cíclica. É crise terminal. Em 300 anos de hegemonia praticamente mundial, esse modo de produção com sua expressão política, o liberalismo, destruiu com sua voracidade desenfreada as bases que o sustentam: a força de trabalho, substituindo-a pela máquina, e a natureza, devastando-a a ponto de ela não conseguir, sozinha, se auto-regenerar. Por mais estratagemas que seus ideólogos vindos da tradição marxista, keynesiana ou outras tentem inventar saídas para este corpo moribundo, elas não serão capazes de reanimá-lo. Suas dores não são de parto de um novo ser, mas dores de um moribundo. Ele não morrerá nem hoje, nem amanhã. Possui capacidade de prolongar sua agonia, mas esgotou sua virtualidade de nos oferecer um futuro discernível. Quem o está matando não somos nós, já que não nos cabe matá-lo, mas superá-lo.

Repetimos: os limites do capitalismo são os limites da Terra. Já encostamos nesses limites, tanto da Terra quanto do capitalismo. A continuar, seremos destruídos por Gaia, pois ela, no processo evolucionário, sempre elimina aquelas espécies que, de forma persistente e continuada, ameaçam a todas as demais. Nós, homo sapiens e demens, nos fizemos, na dura expressão do grande biólogo E. Wilson, o Satã da Terra, quando nossa vocação era o de sermos seu cuidador, guardião e anjo bom.

Para onde iremos? Nem o Papa, nem o Dalai Lama, nem Barack Obama, nem muito menos os economistas nos poderão apontar uma solução. Mas, pelo menos podemos indicar uma direção. Se esta estiver certa, o caminho poderá fazer curvas, subir e descer e até conhecer atalhos. Esta direção nos levará a uma Terra na qual os seres humanos podem ainda viver humanamente e tratar com cuidado, com compaixão e com amor a Terra, Pacha Mama, Nana e nossa Grande Mãe.

Esta direção, como tantos outros já o assinalaram, se assenta nestes cinco eixos: (1) um uso sustentável, responsável e solidário dos limitados recursos e serviços da natureza; (2) o valor de uso dos bens deve ter prioridade sobre seu valor de troca; (3) um controle democrático deve ser construído nas relações sociais, especialmente sobre os mercados e os capitais especulativos; (4) o ethos mínimo mundial deve nascer do intercâmbio multicultural, dando ênfase à ética do cuidado, da compaixão, da cooperação e da responsabilidade universal; (5) a espiritualidade, como expressão da singularidade humana e não como monopólio das religiões, deve ser incentivada como uma espécie de aura benfazeja que acompanha a trajetória humana, pois ancora o ser humano e a história numa dimensão para além do espaço e do tempo, conferindo sentido à nossa curta passagem por este pequeno planeta.

Devemos crer, como nos ensinam os cosmólogos contemporâneos, nas virtualidades escondidas naquela energia de fundo da qual tudo provém, que sustenta o universo, que atua por detrás de cada ser e que subjaz a todos os eventos históricos e que permite emergências surpreendentes. É do caos que nasce a nova ordem. Devemos fazer de tudo para que o atual caos não seja destrutivo, mas criativo. Então sobrevivemos com o mesmo destino da Terra, a única casa comum que temos para morar.

* Leonardo Boff é teólogo, escritor, professor emérito de ética da UERJ e membro da Comissão da Carta da Terra.

Manual de Etiqueta Sustentável

NA RUA
Como percorrer a cidade onde você mora de maneira mais amigável

1
Na hora de comprar um carro, faça um cálculo simples de qual o tamanho ideal para suas necessidades. Veículos maiores consomem e poluem mais. Modelos do tipo flex fuel estão adequados às normas de proteção ao meio ambiente. Lembre-se: prefira abastecer com etanol.
2
Carro não é o meio de transporte ecologicamente mais correto. Use-o com moderação, em especial se tiver um enorme 4x4 a diesel. Ande mais em transporte coletivo ou reabilite sua magrela.
3
Compartilhe seu carro. “Pratique a carona solidária e diminua a emissão de poluentes, levando pessoas que fariam o mesmo trajeto separadamente”, recomenda o ambientalista Fábio Feldmann. Você vai se tornar o cara mais simpático da cidade.
4
Carro requer manutenção, não tem jeito. Faça uma regulagem periódica, sempre que possível. Troque o óleo nos prazos indicados pelo fabricante, verifique filtros de óleo e de ar. Todas essas medidas economizam combustível e ajudam a despejar menos CO2 no ar.
5
Que tal lavar o carro a seco? Existem diversas opções de lavagem sem água, algumas até mais baratas do que a tradicional, que consome centenas de litros do precioso líquido. Pense também em lavar menos seu carro.
6
Tem atitude mais grosseira que atirar lata ou outros dejetos pela janela do carro? O castigo para essa gafe é garantido: os resíduos despejados na rua são arrastados pela chuva, entopem bueiros, chegam aos rios e represas, causam enchentes e prejudicam a qualidade da água que consumimos.


EM CASA
Seu lar, doce lar, pode ser uma cidadela da sustentabilidade com algumas atitudes bem simples.


7
Os aparelhos que ficam dia e noite em modo stand by são mais uma nova invenção em nome do conforto. Só esqueceram de dizer que isso consome energia sem necessidade. Puxe a tomada de todos eles quando não estiverem em uso e tenha certeza: o valor de sua conta de luz vai cair bastante.
8
Na hora de comprar eletrodomésticos, escolha os mais eficientes. É possível reconhecê-los pelo selo do Procel (nas marcas nacionais) ou Energy Star (nos importados). Detalhe: isso não custa nada.
9
Viva seu dia com luz natural. Abra janelas, cortinas, persianas, deixe o sol entrar e iluminar sua casa em vez de acender lâmpadas. Além de fazer muito bem ao seu humor, você também vai economizar dinheiro no fim do mês.
10
Mude sua geladeira e seu freezer de lugar. Ao colocá-los próximos do fogão e de áreas onde bate sol, eles utilizam muito mais energia para compensar o ganho de temperatura. Aproveite para avaliar com seus botões: será que você precisa mesmo de um freezer?
11
Idéia luminosa é trocar as lâmpadas incandescentes do banheiro, da cozinha, da lavanderia ou da garagem pelas fluorescentes. O motivo é para lá de convincente: elas duram até 10 vezes mais, são mais eficientes e economizam até um terço de energia elétrica.
12
Ventiladores de teto consumem muito menos energia que os aparelhos de ar condicionado. Tudo bem, você prefere o ar condicionado. Então, ao menos use-o racionalmente, com portas e janelas fechadas e os filtros regularmente limpos.
13
Evite a torneira elétrica nos dias quentes. Aliás, para quê esquentar a água da pia se vivemos num país tropical? Pense nisso.
14
Atire a primeira pedra quem nunca esqueceu o carregador do celular ligado na tomada. Acredite: esse pequeno descuido gasta energia elétrica.
15
Pendure as roupas no varal em vez de usar a secadora. Recorra a ela apenas em casos mais urgentes. E aquele truque de colocar panos e roupas para secar atrás da geladeira deve ser abolido, pois consome energia extra.


16
Não há nada mais fora de moda que usar a mangueira de água para varrer a calçada, a chamada “vassourinha hidráulica”. Em 15 minutos, 280 litros de água escorrem para o ralo inutilmente. Espante a preguiça, pegue a vassoura, junte a sujeira, recolha com a pá e só depois enxágüe o chão.
17
O que há de errado em tomar água “torneiral”? Saiba que ela é bem tratada antes de chegar a sua casa. então, instale um purificador na torneira e se esqueça dos incômodos garrafões. O consumo de água engarrafada envolve o transporte em veículos a diesel. É preciso dizer mais?
18
Fique de olho em vazamentos nos encanamentos e não deixe torneiras pingando inutilmente. É economia líquida e certa de água e de dinheiro.
19
Pense com carinho na possibilidade de colocar acumuladores de energia solar e de coleta de água das chuvas em sua casa. Novos prédios já estão tomando essas medidas. Pode ser um bom investimento para você. E um alívio para o planeta.
20
Muito luxo produz muito lixo. Pense antes de sair comprando tudo o que aparecer. Com essa atitude você faz a diferença, combatendo o desperdício, diminuindo a montanha de embalagens descartadas e, de quebra, espantando as dívidas.
21
Leve o campo para dentro de sua casa em plena cidade grande: cultive uma pequena horta em vasos ou mesmo num cantinho do quintal. Além da higiene mental, você colherá ervas, condimentos e hortaliças frescas diretamente da terra.
22
Restos de alimento que você despeja na lixeira são bons fertilizantes orgânicos. Parece incrível, mas espalhar casca de ovo, de fruta e de legume, pó de café, saquinho de chá e pão velho nos vasos ajuda a deixar as plantas mais fortes e bonitas.
23
Sofrer em engarrafamento para ir ao banco e depois testar a paciência numa fila interminável são coisas do passado. Faça uso da tecnologia, colocando em dia todas as suas transações financeiras pela internet, sem sair do conforto de casa.
24
Que tal fazer compras caminhando até o mercadinho perto de sua casa ou divertir-se indo à feira a pé toda semana? Vá lá, pode ser que um ou outro produto esteja um pouco mais caro que naquele hipermercado de sua preferência. Mas pense na economia de combustível e de paciência que você terá sem precisar procurar vaga no estacionamento lotado.

25
Prefira consumir produtos locais e da estação. Eles não precisam ser transportados de longa distância e, por isso, a emissão de carbono e de poluição é mínima. Saiba que a última moda nos melhores restaurantes da Itália é o “cardápio 0 km”. eles servem apenas pratos feitos com ingredientes provenientes de produtores da vizinhança.
26
Despreze os produtos descartáveis. Escolha os feitos para serem duráveis, como era nos tempos de nossos avós. Tenha a certeza de que com essa simples atitude você estará dando o pontapé inicial para diminuir a quantidade de lixo que a humanidade produz.
27
Pare e pense bem antes de descartar todos aqueles objetos que já não interessam mais a você. Que tal doá-los a alguma entidade assistencial? Esse material que está apenas ocupando espaço em sua casa certamente será útil para muita gente.
28
Um dos grandes problemas da poluição dos mananciais vem de um hábito difícil de mudar: jogar o óleo de fritura usado no encanamento. Um litro de óleo pode contaminar até um milhão de litros de água. Separe o óleo em garrafas PET para doá-lo a ONGs que fazem biodiesel e sabão com ele.
29
Não jogue pilhas e baterias de celular velhas no lixo. Elas contêm substâncias tóxicas que contaminam o solo e os lençóis freáticos. Separe todas elas e procure um posto de coleta perto da sua casa. Aproveite para diminuir o consumo de pilhas descartáveis com o uso de pilhas recarregáveis.
30
“Ao fazer compras, leve sua própria sacola, de preferência as de pano resistente”, aconselha o presidente do Instituto Ethos, Ricardo Young. Com esse gesto simples, você deixará de participar da farra das sacolinhas plásticas, que entopem cada vez mais os lixões das grandes cidades.
31
Procure saber a procedência dos produtos que você consome. Fuja de produtos de empresas com referências suspeitas. Adote o costume de ler as embalagens e ligar para o serviço de atendimento ao cliente quando tiver alguma dúvida sobre o produto.

NO TRABALHO
Faça o possível para mudar os hábitos da sua empresa, ou mude de empresa.
32
Lute para que a companhia onde você trabalha adote atitudes mais sustentáveis. Pressione para que a direção da empresa tome medidas de economia de energia elétrica, água e materiais de consumo. Bem, se você não conseguir mudar nada, pense seriamente em mudar de emprego. Afinal de contas, você não precisa de chefe para ser bom cidadão.
33
Desabilite seu screen saver cheio de efeitos especiais. O monitor ligado, mesmo com aquele descanso de tela bacana, é responsável por até 80% do consumo do computador. Configure sua máquina para o modo de economia de energia. Assim, ele vai desligar automaticamente toda vez que você se ausentar.
34
A quantas reuniões rápidas você já teve de ir depois de enfrentar horas no trânsito para ir e voltar? Às vezes é possível resolver isso por telefone ou em programas de comunicação on-line de seu próprio computador.
35
Se tiver chance, prefira um notebook. Ele consome menos energia que um computador de mesa.
36
Prefira o papel ecoeficiente ou o reciclado. A produção do ecoeficiente usa os recursos da natureza de maneira racional. Tem como matéria-prima o eucalipto plantado para essa finalidade e colhido após sete anos. Para ficar com a aparência que todos conhecem, enfrenta processo de branqueamento. O papel ecoeficiente é feito de fibra de árvores manejadas de forma sustentável, evitando o impacto negativo no meio ambiente.
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já reparou na quantidade de copos de plástico jogados no lixo no fim do expediente? Mude isso: traga de casa sua própria caneca ou uma garrafinha para água. Você ditará moda entre os colegas.
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Quando precisar dos serviços de um portador prefira chamar um bikeboy, em vez de um motoboy. Além de mais barato, ele entrega seus documentos com maior rapidez. O que é melhor: sem poluir o ar nem provocar engarrafamentos.
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Coloque nos seus planos trocar seu monitor comum por um de LCD. Eles são mais econômicos, ocupam menos espaço na mesa e estão ficando cada vez mais baratos.
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Economize CDs e DVDs, que são feitos de plástico. A onda agora usar e abusar de mídias regraváveis como CD-RW ou DVD-RW, drives USB ou mesmo utilizando e-mail para carregar ou partilhar arquivos.
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Imprima somente o que for mesmo necessário e procure aproveitar os dois lados da folha de papel. Tá certo, essa é uma daquelas dicas que você conhece bem. Mas a está colocando em prática?


NA VIDA PESSOAL
Transforme-se em um cidadão sustentável, pequenos gestos podem produzir grandes resultados.


FONTE: http://planetasustentavel.abril.uol.com.br/cartilha/narua.shtml